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(Progressismo) - A Civilização Cristã Deve Prevalecer - IBC v.1

A civilização cristã deve prevalecer

“Se não nos opusermos ao seu furor, esse povo bárbaro tornar-se-á dono da Santa Cidade, destruirá os monumentos sagrados de nossa Redenção, manchará os lugares santificados pelo Sangue do Cordeiro sem mancha.” (São Bernardo de Claraval)

Continuação de: O Pacificismo e a desvirilização da civilização cristã

Depois de ter discorrido sobre a história do pacifismo e seus fracassos evidentes, é preciso inquirir sobre a mentalidade do pacifista. Antes de mais nada, é necessário recorrer a uma categoria importante da análise de estruturas de pensamento: a mentalidade revolucionária. Um revolucionário pode ser definido como aquele indivíduo que se arroga a capacidade de modificar o conjunto da sociedade e, também, da natureza humana por meio de uma ação política. Uma vez que ele está levando a humanidade para o progresso e para um futuro brilhante, ele não poderá, em nenhum momento, ser julgado por suas ações e, mais do que isso, deve ser compreendido como um sujeito que quer o “bem” da humanidade. 

Os pacifistas, por desejarem a modificação completa da ordem e estabelecimento da paz, ignoram que, em primeiro lugar, a paz deve ser buscada no interior de cada homem, mediante um esforço de busca das virtudes, de defesa da dignidade humana e de condução das pessoas para o Bem. Como se pode notar, os próprios pacifistas colocam em seus livros títulos como “paz perpétua”, o “14 pontos para a paz”.

Ora, em todos esses projetos, os autores estão preocupados com a modificação das estruturas políticas, em primeiro lugar, como se as vontades humanas não operassem como fatores poderosos na determinação do curso dos eventos, e como se a formação de uma boa vontade humana não passasse necessariamente pela busca do Bem Comum.. O que eles desejam, na verdade, é serem os promotores do “fim da história” ou os “salvadores da pátria”.

Aprofundando mais a análise sobre a mentalidade dos pacifistas, pode-se notar que, para eles, a racionalidade pura seria capaz de evitar guerras para isso, bastaria que houvesse uma plena disposição para o diálogo. Isso fica evidente quando se observa a posição de Kant, Rousseau e Woodrol Wilson. Todos eles apregoam a necessidade de que as nações respeitem as alianças e as organizações criadas para o estabelecimento da paz. Isso é incompatível com a moralidade, em primeiro lugar, pois a própria organização pode ter como compromisso não a paz, mas uma visão ideológica da paz; em segundo, os meios para o atingimento dela podem ser contrários à Lei Natural. Quando se propõe a desmilitarização como meio de garantir a paz, a legítima defesa fica impossibilitada. 

A desmilitarização e a busca incessante pelo diálogo, como se ele fosse onipotente, por sua vez, relacionam-se com a suposição de que não há inimigos. Ora, durante o período do Império Romano, os católicos eram perseguidos por todos os imperadores até, pelo menos, o início do século IV, quando houve a promulgação do Édito de Milão, em 313, dando liberdade de culto para os católicos. A célebre frase “si vis pacem, para bellum” aponta que a paz é fruto de uma luta. 

Ainda sobre a questão dos inimigos, é necessário pontuar que existem ideologias intrinsecamente más e outras que corroboram, em maior ou menor grau, o mal. Por essa razão, como é possível uma pessoa dizer que homens como Lênin, Marx, Hitler e Cecil Rhodes sejam ouvidos e equiparados a homens como Gabriel Garcia Moreno e Antônio de Oliveira Salazar – isso só para ficar nos exemplos de personalidades políticas dos últimos dois séculos? É possível imaginar, por exemplo, um Godofredo de Bulhões fomentando um diálogo aberto com os sarracenos? Seria possível a existência da França sem Carlos Martel?

O espírito conciliador tenta realizar a paz abrindo mão do que é essencial. O homem, ferido pelo pecado original, possui uma tendência para o mal e, por essa razão, precisa ordenar-se ao bem. Como a civilização cristã se ordenou ao Sumo Bem, qualquer tipo de organização que tente conciliar princípios contrários ao bem não pode ser defendida. 

O problema se agrava quando, mais do que desconsiderar a presença de inimigos, os pacifistas invertem a ordem do bem e do mal. Para os marxistas, o mal é oriundo das condições socioeconômicas. O alemão Fredrich Engels disse o seguinte:

Uma sociedade comunista, ao suprir as necessidades individuais, eliminando a desigualdade e dando um fim à contradição entre o indivíduo e a sociedade, cortaria o mal pela raiz.

O problema, no entanto, é que os marxistas e progressistas defenderam os mais sanguinários ditadores. Assim, aqueles que mais impõem o mal à sociedade são aqueles que passam a ser objeto de prestígio e atenção, em vez de condenação.

A vileza dos revolucionários continua quando se perverte a linguagem e começam a dizer que aqueles que são contra os pacifistas são os “radicais”, “fundamentalistas”, “extremistas”, etc. Deste modo, aqueles que desejam a manutenção dos valores da civilização cristã passam a ser atacados por todos os lados.

A partir do controle dos meios de comunicação, das universidades, das publicações editoriais e da política, as vozes contrárias ao pacifismo deixam de ter voz, passando a ser colocadas à margem do debate. Por essa razão, temas como o desarmamento aparecem com grande vigor e os “especialistas” pervertem números para conseguir aprovar as suas teses contrárias à Lei Natural e à Lei Divina. 

Infelizmente, os cristãos, nas últimas décadas passaram a negociar com o mundo, dialogar com os principais inimigos da Igreja e daqueles que desejam o fim da civilização cristã. Isso aconteceu por algumas razões: 

  1. Desconhecimento da história da Igreja e do Cristianismo 
  2. Conciliação do cristianismo com a filosofia moderna
  3. Apego aos sentidos e aos afetos 
  4. Exacerbação do humanismo
  5. Respeitos Humanos 
  6. Retirada do poder político da Igreja 

Em primeiro lugar, há um problema grave, hoje, na formação dos cristãos: o desconhecimento da história da Igreja, dos seus inimigos e das tentativas de infiltração das ideologias. Soma-se a isso a superficialidade no estudo e na delimitação de um recorte temporal que deixa de lado boa parte da Tradição e, consequentemente, é incapaz de observar o problema de maneira plena.

A resolução desses problemas faria com que os cristãos tivessem um melhor conhecimento de eventos cruciais de sua própria história, mantendo viva a consciência da necessidade  de defesa da Cristandade. Pode-se citar, por exemplo, as Cruzadas e a Batalha de Lepanto, dois momentos fundamentais nos quais a violência foi utilizada de maneira contundente pelos cristãos para a manutenção da civilização cristã.  

Outro problema grave que penetrou a Igreja é a tentativa de conciliação do Cristianismo com a filosofia moderna. Ao ver que a Nova Teologia e a Teologia da Libertação ganharam protagonismo, no século XX, dentro da Igreja, o que se nota é que a doutrina tomista passa a ser deixada de lado. Assim sendo, a metafísica que sustentou a Igreja nos momentos mais difíceis deixa de ser utilizada, hoje, como instrumento capaz de trazer luz aos graves problemas enfrentados. Por essa razão, é importante que a filosofia volte para o realismo moderado e demonstre a necessidade do estudo das razões pelas quais a guerra é um instrumento para trazer a paz e a justiça. 

A modernidade trouxe, ainda, uma valorização exacerbada dos sentimentos e dos afetos. Isso fez com que as pessoas direcionassem as atenções para aquilo que fazia as pessoas se sentirem bem e não com o bem propriamente dito. No caso da guerra e da legítima defesa, nota-se que as pessoas estão preocupadas em evitar o mal-estar e a confrontação, uma vez que contrapor alguém pode gerar desconforto. O próprio cristianismo não foi fundado pelo conforto, mas pela Cruz. O sofrimento e o desapego dos afetos são condição sine qua non para que as pessoas possam ter a inteligência mais limpa e, consequentemente, enxerguem a realidade com maior precisão. 

O humanismo integral de Jacques Maritain é outro responsável pela diluição da filosofia tomista e, consequentemente, pela dificuldade de entendimento do enfrentamento. O humanismo é fruto do Renascimento, do movimento cultural europeu que começou a modificar a posição do homem em relação a Deus. A partir do século XVI, ele começa a penetrar na Igreja com Francisco de Vitória. Sendo assim, a visão de que a sociedade deveria se ordenar a Deus foi modificada para que o homem tivesse centralidade. Logo, o homem passou a ser visto como legitimador de todas as coisas e, consequentemente, se houvesse um desvio moral, não se deveria buscar a justiça. Assim sendo, essa visão impede que haja um espírito combativo ao erro e aos agressores. 

Por fim, e parcialmente caudatário do ponto explicado acima, existe uma exacerbação dos “respeitos humanos”. O que vem a ser isso? É uma visão segundo a qual todas as formas de pensar e de agir das pessoas devem ser irrestritamente respeitadas e compreendidas. Por isso, em primeiro lugar, seria necessário, para os que aderem a essa visão, que as pessoas entendessem as raízes psicológicas ou sociais do agressor e, somente depois, caso fosse conveniente, agissem para frear uma ação. Nesse sentido, é como se fosse um diálogo com o erro e a impossibilidade de estabelecer uma visão real e concreta do mal. Afinal, o subjetivismo dos respeitos humanos paralisa qualquer possibilidade de justiça. 

Os parágrafos anteriores apontam para os problemas enfrentados pelos cristãos que, hoje, não conseguem compreender quais são os verdadeiros inimigos. Aliás, é interessante notar como muitos cristãos sequer consideram a possibilidade de haver inimigos. Sendo assim, a ingenuidade, misturada com o otimismo pueril e a anuência de alguns cristãos, faz com que as principais bandeiras dos inimigos da civilização cristã avancem com agressividade. É, portanto, uma situação que exige um profundo olhar de correção de rumos para que o vigor físico, espiritual, moral e intelectual do Ocidente seja renovado.

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