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Bonum est diffusivum sui

Empulhação e vileza, dos iluministas aos popstars de hoje

Gabriel Sydorak

Quem quer que vá a uma banca de revistas ou ligue sua televisão num dos programas de amenidades constata a miséria moral e existencial daqueles que são postos em pedestais pelo vulgo atolado em paixões animalescas e por aqueles que lucram, nesta era de massas, vendendo o ópio cultural para o pobre povo das metrópoles modernas.

Se o leitor tem uma memória fraca, peço que recorde ao menos do escândalo ocorrido entre Johny Depp e Amber Heard há poucos meses. Se guarda bem suas impressões, lembre-se então da ficha muito bem corrida, ao longo das últimas décadas, dos escândalos envolvendo estrelas do show business. De Hollywood até o Projac-Globo, o que sabemos hoje daria mais fofocas e escândalos do que poderiam cochichar todas as dondocas de meia idade da baixa classe média.

É triste constatar que tais pessoas não têm nenhum propósito claro de vida; são superficiais, enfastiantes, vaidosas e egocêntricas, além de serem, no mais das vezes, claramente ignorantes e hipócritas. Nelas, a moralidade do trabalho se inverte: ao “produzirem seus conteúdos”, descartam a própria dignidade (e também aquela de quem os ouve); quando “servem” a outrem mediante seu “trabalho”, por fim lhe causam mais dano do que se não lhe servissem em nada.

Seria tanto melhor se fossem solenemente ignoradas pela população, pois esta, ainda que assistindo sua novela das 9 todo dia, jamais aceitaria que um filho seu passasse por um “teste do sofá” com o diretor do programa.

Todavia, estes “artistas” são os que criam tendências, ganham milhões de fãs e impressionantes somas de dinheiro de empresas que os contratam para promover seus produtos, figurando depois nas capas de revistas de fofoca como se fossem exemplares de uma invejável vida e de uma admirável moralidade. Quem se atrever a jogar um tomate num ou noutro saltimbanco do beautiful people será olhado com hostilidade, ao mesmo tempo, por um cidadão do tipo cult, morador do Bigorrilho ou do Cabral, e pela senhorita caixa do Condor, moradora do Sítio Cercado ou do Tatuquara.

A nossa trágica realidade é esta: quem tem os corações das massas pode usá-los como bonecos de vodu. Ponha uma roupa X, e no dia seguinte ela terá virado moda; exiba um comportamento Y (como pronome neutro ou comer a placenta do filho) e logo ele será uma tendência.

Podemos, ao menos, agradecer à Divina Providência por estas celebridades só reluzirem como a pirita: o ouro dos tolos, que brilha dourado e atrai os bocós, mas não tem valor de fato.

Pouca gente sabe, mas o mundo já teve o azar de ver caminhar sobre a terra uma celebridade com uma moral tão baixa quanto a de um artista da indústria cultural contemporânea, mas com uma criatividade e argúcia tão potentes quanto as de um Cícero.

Evidentemente, não me refiro a nenhum cantor de MPB ou funkeira promovida ad hoc ao status de intelectual. Estou falando, na verdade, daquele revolucionário nascido em berço aristocrata e filho da burguesia (com o perdão da redundância, já que de praxe quase todo revolucionário o é) batizado como François-Marie Arouet. Mas pode chamá-lo de Voltaire, como o próprio preferia.

Por incrível que pareça, o homem teve uma educação de se invejar. Foi estudante do Colégio Louis-le-Grand, até hoje uma das mais prestigiadas instituições secundárias da França. Na época, o colégio ainda era administrado pelos jesuítas, a ordem que guardou e desenvolveu, até ser suprimida mais tarde naquele século XVIII, o que a inteligência católica da Idade Média havia legado de mais formidável à posteridade.

Constata-se aí o que diz aquele famoso adágio latino: corruptio optimi pessima (“a corrupção das coisas ótimas as torna péssimas”). Nutrido com o melhor estudo que a tradição ocidental lhe poderia dar, Voltaire adquiriu um esplêndido vigor retórico para cuspir no prato em que comeu. No Louis-le-Grand, ele aprendeu a retórica e a oratória, aperfeiçoou seu talento para a poesia e o teatro, e contemplou as maravilhas das sofisticadas teologia e filosofia dos escolásticos.

Em tenra idade, graças a desentendimentos com a família e o influxo de más companhias, o aprendiz de poeta começou a se envolver em grande encrencas, vistas por seus admiradores como “martírios brancos” de um “defensor da liberdade e da tolerância”, conquanto não passassem de quiprocós daquela sociedade de cortesãos artificiais e vaidosos.

Não demorou muito para que o rapaz abraçasse, por toda a vida, aquela fase rebelde que chamamos hoje “adolescência”; ele aproveitou-se dos ressentimentos dela para prolongar o seu comportamento juvenil e torná-lo o modus operandi psicológico por trás das suas diatribes filosóficas que afiaram as lâminas da guilhotina da “Praça da Concórdia”.

A figura de Voltaire se tornou, desde então, um fenômeno muitíssimo curioso. Ele foi o primeiro popstar ocidental, aclamado pelo show business e frequentador dos melhores círculos sociais da sociedade da época; ele havia se tornado o pioneiro do beautiful people moderno, cujo estilo e modos eram imitados e admirados por um gênero de pessoas tão inúteis e de expressão tão desnecessária quanto as senhoras de meia idade que polemizam sobre qualquer-coisa-fobia nos programas da manhã da principal emissora deste país (e eventualmente têm o desgosto de ouvir ao vivo a discordância inocente do lúcido Zé-povinho).

É até mesmo difícil encontrar uma figura atual que se compare a ele: tinha o ativismo socialista-caviar de um Michael Moore, mas a inteligência astuta de um Žižek, e ainda a promiscuidade de um Charlie Sheen. Ao longo de sua vida, suas peças foram encenadas dentro e fora da França, e sua poesia lhe valeu até o título de “Virgílio Francês”, tal era sua habilidade para a versificação e para a rima.

Honestamente, talento literário não lhe faltava, e pode-se facilmente verificar isso lendo algum de seus poemas. Mas, de que serve o talento a quem não o utiliza senão para tornar suas vis proezas ainda mais diabólicas ao colaborar diretamente com o triunfo do mal?

O leitor pode fazer uma simples experiência, se não a achar entediante demais: há uma lista muito extensa das obras do autor, ainda que não inteira, disponível na Wikipédia francesa sob o título Liste des œvres de Voltaire, contando com uma breve sinopse na última coluna.

Num dia desses, resolvi checar toda a vasta lista que contém 508 escritos, e ler as sinopses de cada um deles. As opiniões do escritor não são novidade para ninguém, mas me surpreendi com a quantidade destas obras cujo caráter moral ou formativo é tão deplorável quanto as opiniões dos artistas modernos sobre política, religião, ciência, ou hábitos alimentares.

Uma grande parte, senão a maior, da produção de literária de Voltaire, é dedicada a zombar e escarnecer da Fé Católica, e sua produção soi-disant historiográfica causou um impacto ainda mais profundo e grave no imaginário ocidental, pois criou, difundiu e enraizou nos eruditos e na população uma coleção de mitos e falsificações históricas das mais absurdas que se possa imaginar.

As produções de historiadores modernos, desde a Escola dos Annales, vêm desconstruindo este arsenal de engodos que foram empregados reiteradamente nos últimos séculos para caluniar os católicos e obter, para partidos e indivíduos de interesses escusos, vitórias no campo político e no campo da opinião pública. Já dizia Orwell, em outro adágio muito repetido atualmente, que “quem controla o passado, controla o futuro”.

Eis aí a utilidade e a importância da história na vida quotidiana. Ela é o registro criminal, a perícia dos delitos passados que os homens, individuais ou coletivos, utilizam para julgarem a si mesmos e aos outros, e dar a cada um o que compete a si no presente.

[Voltaire] não produziu muita coisa que não fosse literatura de desinformação e contrapropaganda

A história também é a anamnese que o homem faz da sua própria trajetória, com o auxílio daquele álbum de fotos reveladas e amareladas, ou daquela caixinha de recordações: dado que o homem é sempre um sujeito em construção, alguém arremessado como uma bala em circunstâncias aleatórias, como dizia Ortega y Gasset, ele recorda, ao contemplar cada imagem do passado, cada momento em que sua personalidade foi atravessada e marcada pelos flechas do destino e dos dramas da vida.

A história pessoal, biografia, serve a compreensão de si; a história coletiva, História em sentido estrito, transcende e aprofunda a compreensão de si mesmo, fornece também a compreensão da coletividade. E isto é de importância imensa.

Como dissera Aristóteles, o homem é um animal político por natureza; portanto, o indivíduo não emana, retira de si mesmo todo o seu ser; toda individualidade se constitui apenas como individualidade mediante a contiguidade do outro, que ele assimila, julga, incorpora, descarta ou combate.

No livro The Medieval Chastity Belt – a Myth-Making Process (Palgrave Macmillan, 2007), o historiador Albrecht Classen explica a sua proposta com a obra citando justamente alguns congêneres contemporâneos das obras de Voltaire, O Código da Vinci, O Nome da Rosa, e até mesmo algumas gozações cinematográficas feitas por Woody Alen nos anos 1960. Elas mostram como falsificações grotescas criadas por Voltaire e outros se embrenharam na literatura e deformaram a imagem do passado que grande parte da população possui hoje.

Nesta obra, o autor belga se põe a desfazer o mito a respeito de um suposto símbolo de “opressão patriarcal e sexual sancionada pela Igreja Católica durante a Era das Trevas”. Agora, não apenas sabemos que cintos de castidade não eram usados como um entrave posto por um marido ausente e ciumento à satisfação sexual de sua mulher, mas temos indícios de que as raríssimas menções a cintos deste tipo falam deles, na verdade, como dispositivos usados por mulheres como proteção em situação de cercos e saques contra cidades, onde a ocorrência de estupros e outras atrocidades era recorrente.

Fazendo uma dobradinha muito bem vinda ao leitor e ao bom senso, Classen também refuta em um capítulo adicional outra falsificação devida a Voltaire que virou até mesmo parte do enredo do filme Coração Valente: o “direito da primeira noite” (geralmente citado em latim, para dar mais verossimilhança ao embuste, como “jus primae noctis”). As obras em que Voltaire lança mão destes engodos são, respectivamente, Le Cadenas (1724) e Le Droit du Seigneur (1760).

As duas se encontram na lista de obras que citei e são o exemplo de apenas um dos artifícios utilizados por um autor sem dúvida talentoso, mas que não produziu muita coisa que não fosse literatura de desinformação e contrapropaganda.

Pode-se ainda citar outras imposturas do menestrel além destas que honestamente poderiam ser qualificadas, como ele próprio qualificou o Cândido (sua obra mais conhecida), de “bufonarias de arlequim”.

Inclusive os seus discursos filosóficos ou científicos – ainda que eu deva dizer que só o eram na pretensão -, pois contêm uma filosofia demasiado rasa e sentimental e uma forma de fazer “ciência” que, como veremos, revela-se bastante questionável se tomarmos a ciência como ela é encarada hoje pelos acadêmicos (mesmo os que depositam flores no túmulo do pretenso filósofo).

A impostura voltaireana mais flagrante e que não exija pesquisas mais aprofundadas para ser desmentida talvez esteja na ideia veiculada a partir da obra Cartas Inglesas (ou filosóficas), em que a Inglaterra é celebrada como um modelo de liberdade e tolerância. A tolerância da Inglaterra pós-Revolução Gloriosa admitia todas as opiniões, exceto uma: a Católica. Se ele tivesse vivido para ver Popper anunciar o seu “paradoxo da tolerância”, certamente teria se utilizado dele para descrever aquele país.

Precisamos de uma regressão até grande, de dois séculos, para descrever a tolerância exclusivista da Inglaterra do século XVIII; comecemos pelo fato de que a Reforma Inglesa foi uma revolução desde cima, imposta com uma violência notável às camadas populares. Durante os reinados de Henrique VIII, Eduardo VI e Isabel I, a revolta popular contra o rompimento com a Igreja Católica abalaram o país. Além de terem sido asseguradas com o derramamento de sangue popular, as medidas despóticas da monarquia inglesa lançaram o país numa instabilidade ideológica que veio a unir-se com outros problemas sociais para resultar na Revolução (ou Guerra Civil) Inglesa.

Ainda que a fé católica tivesse sido em grande medida extirpada da Inglaterra pelo fim do século XVI, a histeria anticatólica continuou por muito tempo sendo um dos motores da política britânica. Quando do estouro da Revolução, a queixa dos revolucionários puritanos era de que a Igreja Anglicana estava se inclinando ao Catolicismo; na época da restauração, uma histeria anticatólica promovida pelo falsário Titus Oathes levou à execução de vários ingleses acusados de tramarem uma “conspiração papista”.

Da Revolução Gloriosa até os século XIX, os católicos foram cidadãos de segunda classe no Reino Unido, sem plenos direitos a liberdade de culto, expressão, educação, e sequer a direitos plenos de propriedade.

Com todo este plano de fundo, é até supérfluo citar o fato de que a invasão da Irlanda pelo exército revolucionário de Cromwell na metade do séc. XVII levou ao extermínio de aproximadamente ⅓ da população fortemente católica da ilha. Como todo bom panfletário revolucionário, Voltaire calava-se quanto a estes fatos inconvenientes, enquanto tratava de pintar com as cores mais cinzentas a “intolerante” França bourbônica e, com as mais coloridas, as sucessivas ditaduras protestantes britânicas. Os censores e propagandistas do Glavlit, o órgão de censura soviético, certamente tiveram muita inveja deste mestre francês da desinformação.

Enfim, após apreciarmos a pseudo-história e a pseudocrítica social deste Zé de Abreu de peruca, podemos apreciar também os seus ensaios de pseudo-ciência e filosofia. Ele tem o mérito de ter sido o principal difusor das teorias de Newton na França. As explicações da mecânica universal dadas pelo cientista inglês bastariam para compreender suficientemente como o mundo subsiste, apesar de ele não negar a existência de Deus e até mesmo defendê-la.

Contudo, o deus de Voltaire não é do tipo que se enquadra na teologia ortodoxa, nem do Catolicismo, nem do Anglicanismo do próprio Newton. Ele é o famoso “deus-relojoeiro”, que cria um universo autossuficiente e vai fazer alguma coisa de mais útil na imensidão do pleroma. Este deus até mesmo teve a sua religião (e religião de Estado!) quando, em 7 de maio de 1794, a Convenção Nacional da França aprovou a instauração do “Culto ao Ser Supremo”, numa linguagem típica da maçonaria. À mesma altura, o sangue corria nas ruas da França como a água corre nas torrentes nos dias de chuva.

O Culto do Ser Supremo esboçado por Voltaire e realizado por Robespierre é mais um dos numerosos exemplos, nos tempos modernos, daqueles que denunciam com toda a indignação os problemas da sociedade sem serem capazes de dar uma solução eficaz e conveniente. O dramaturgo enxergava por si próprio que a abolição da noção de Deus faz desmoronar, além da autoridade religiosa, a própria autoridade civil; porém era contumaz em elaborar uma filosofia pessimista, uma ciência tendendo ao materialismo e uma literatura que escarnecia da religião.

Ao fim e ao cabo, a religião de Voltaire não é senão a religião do brasileiro médio que, com medo do abismo nietzschiano do nada, até acredita em um tipo de “ser supremo”, porém num que seja encarregado apenas de dar corda no relógio e deixar o resto a cargo dos homens.

Quanta ironia contém a história. Recentemente, o livro Isaac Newton e a Transmutação da Alquimia, lançado no Brasil pela Danúbio, tornou conhecido ao público brasileiro um assunto que vinha sendo pesquisado na Europa desde aproximadamente a década de 1930, quando John Maynard Keynes comprou em leilão alguns escritos alquímicos cujo autor era ninguém menos que o próprio Isaac Newton.

Sabe-se que os estudos alquímicos e esotéricos de Newton eram guardados à sete chaves pelo autor, num período como o que mencionamos anteriormente, em que a disputa religiosa inglesa era um certamen perigoso para quem fosse denunciado por bruxaria ou heterodoxia; porém, ainda que Voltaire não conhecesse estes estudos ocultistas de Newton, sabia muito bem que o físico era um anglicano devoto; em suma, sabia que Newton era profundamente religioso. Hoje sabemos que ele tinha um dupla vida religiosa: a devoção ortodoxa de fachada diante da sociedade aristocrática, e a devoção oculta sincera em seu gabinete de estudos.

Vender Newton como um arauto de uma nova ciência, sem “preconceitos” e “obscuridades escolásticas”, foi sem dúvida um negócio da China para o todo o movimento Iluminista, que passou a ter um herói para venerar que não os demasiado religiosos Copérnico, Roger Bacon ou o próprio Galileu, ainda que a biografia deste também tenha sido muito bem distorcida pelo próprio Voltaire e outros que, nessa vil habilidade, são superados em muito por esse.

Voltaire era um literato de talento inigualável e um falsário ainda mais brilhante. Ele é um dos mais celebrados autores da modernidade pela sua habilidade na escrita e seu volume de obras, mas sua maior significância para a história do Iluminismo foi que ele recebeu diversas tendências do debate filosófico e científico, sintetizou-as e as devolveu ao meio social arranjadas de uma nova forma que teve impactos quase imensuráveis no curso das discussões dos letrados do século.

Lido e relido nos séculos seguintes, o corpo de Voltaire foi o segundo a ser transladado ao Panteão de Paris, sendo adorado num clima de apoteótica euforia pelos revolucionários e idolatrado como herói nacional por muitas gerações de franceses. Sua efígie chegou também a ilustrar as cédulas de 10 francos.

No Brasil, seu legado funesto foi capaz de causar problemas inclusive nesta nossa Curitiba, que era quase que literalmente o fim do mundo no início do século passado, em relação à Europa, claro. Aconteceu que, entre fins do séc. XIX e os primeiros anos do séc. XX, um cidadão chamado Dario Vellozo, discípulo do dramaturgo, emulou o mestre e, juntamente com outros radicais anticlericais, encabeçou uma acintosa batalha narrativa contra um despretensioso padre da igreja do Bom Jesus dos Perdões da praça Rui Barbosa. Assim escrevia a respeito do embate com o grupo de Vellozo o missionário francês Padre Desidério Deschand, só referido no meio católico atualmente por sua biografia do presidente equatoriano Gabriel García Moreno, mas cuja própria biografia se desconhece:

Começou nesse tempo nos jornais de Curitiba e Paranaguá uma lucta aberta contra o ensino religioso, promovida por uns rapazes sem outro mérito que uma certa facilidade para escrever, muita audácia, pretensão a sábios e má fé. Tal campanha em outros lugares nada teria conseguido; no Paraná, porém, terra nova e sem tradição religiosa, sem instrucção de espécie alguma, afastou certamente muita gente ou ao menos encheu de preconceitos, apesar de artigos de resposta muito bem feitos e publicados pelo Pe. Alberto José Gonçalves (DESCHAND, 1901, Manuscrito).

Deixemos para explorar este caso, porém, numa outra ocasião. O que expusemos aqui serve mais como um convite aos bons pesquisadores e estudantes que quiserem se aprofundar na monumental obra voltaireana de falsificação da realidade e na continuação deste trabalho ao longo dos séculos por todos os discípulos dele e de outros “iluminados”.

Em 508 obras, sem contar as mais de 20.000 cartas conhecidas, está contida uma quantidade megalítica de empulhação que se incrustou na cultura ocidental. É inútil varrer a casa quando ela está cheia de cupins, é vão defender a verdade se não dedetizarmos, com o melhor aparato crítico e a pesquisa mais criteriosa, o debate historiográfico e filosófico.

Portanto, ainda que sejam muito evidentes os efeitos nefastos do palanque dado ao beautiful people no século XVIII e nos subsequentes, é necessário que muitos pesquisadores honestos esquadrinhem este tema, coisa nem um pouco fácil, todavia necessária. Vislumbrei a empresa, mas como nossa estadia nesta vida é curta, fica aqui o convite.


Referências:

  • CLASSEN, Albrecht. The Medieval Chastity Belt – a Myth-Making Process. Palgrave Macmillan: Londres, 2007.
  • FANNING, Philip Ashley. Isaac Newton e a Transmutação da Alquimia. Danúbio: Curitiba, 2016.
  • JACOB, Margareth. The Radical Enlightenment: Pantheists, Freemasons and Republicans. George & Alan Unwin: Londres, 1981.
  • STARK, Rodney. Bearing False Witness: Debunking Centuries of Anti-Catholic History. Templeton: Filadélfia, 2016

1 comments

  1. Otavio Ferrari Piaskowski

    Excelente texto, caro Gabriel! Voltaire era mesmo um sujeito brilhante, mas perturbado.

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