John Willson
The Imaginative Conservative
O escritor americano M. Stanton Evans disse uma vez em defesa do livre mercado: “Tudo depende de quão próspero você deseja ser”. A prosperidade, como a maioria de nós concorda, é geralmente uma coisa boa. O mundo ocidental tem sido muito bom nisso, embora a prosperidade frequentemente exija que façamos concessões naquelas coisas importantes que, em primeiro lugar, nos deram a prosperidade.
Uma “economia” significa, em seu sentido grego e latino (e hebraico também), a administração adequada de uma casa; isso requer uma cooperação estreita entre marido e mulher, e geralmente dos membros da família estendida. Para sobreviver e prosperar, nossos antepassados tiveram de fomentar, fazer e consertar coisas. Isto ainda é a regra de uma economia ordenada, e devemos recuperar esse seu centro moral a fim de nos afastarmos dos perigos atuais.
“A economia”, conforme a antropomorfizamos, é, obviamente, muito mais complicada que o tripé fomentar, fazer, consertar. Mas, tal qual para uma família, o trabalho é central. De fato, não há nenhuma atividade econômica significativa sem respeito pelo trabalho.
Muito antes do Oeconomicus de Xenofonte, a Antiguidade reverenciava o trabalho como o propósito do homem; Platão chegou ao ponto de igualar a justiça à ideia de cada um fazer o seu próprio trabalho e cuidar de seus próprios negócios. Interpretando Platão quase 25 séculos depois, Irving Babbitt observou que a única liberdade verdadeira é a liberdade para trabalhar.
Entre os romanos, Plutarco descreve Catão, o velho, como um homem dedicado ao trabalho de sua fazenda, ao trabalho de ensinar seus filhos e de escrever tratados sobre os muitos aspectos da vida no campo, ao trabalho cívico em ajudar seus vizinhos e ao trabalho na política e na guerra a serviço da res pública; esta era a definição da virtude romana para Catão. O poeta Virgílio utilizava o termo labor para representar a dignidade do trabalho, sem o qual a missão de Roma pouco teria a oferecer à república ou ao mundo.
As religiões ocidentais sacralizaram o trabalho desde o início. Adão e Eva deveriam cuidar do jardim. A civilização hebraica era baseada em fazer fielmente o trabalho para Deus e o homem, de acordo com o chamado de cada um. “Trabalharás por seis dias”, diz o terceiro mandamento, sobre o dia de descanso. A tradição católica ensina que o trabalho humano é “chamado a prolongar o trabalho da criação” e deve “ser exercido dentro dos limites da ordem moral” a serviço do homem integral e da comunidade (Catecismo da Igreja Católica, § 2427).
Os ancestrais puritanos e quacres dos Estados Unidos aceitaram a ideia, e insistiram nela, “de que todo o cristão tinha dois chamados… O primeiro era o dever cristão de viver uma vida piedosa no mundo. O segundo era principalmente sua vocação” (David Hackett Fischer, Albion’s Seed, p. 156). Ao tentar explicar as origens dos sistemas econômicos modernos, Max Weber deveria de modo plausível ter chamado o precursor cultural de “Ética de Trabalho Judaico-Cristã”.
Pagãos, judeus e cristão, todos eles sabiam, diz Russell Kirk, “que devemos encontrar nossa felicidade no trabalho, ou não a encontraremos de nenhuma maneira”. Ou como minha sogra gosta de dizer: “O que faríamos se não tivéssemos nosso trabalho!”
Uma economia não produz felicidade nem para a pessoa nem para a comunidade. Mas o trabalho pode trazer felicidade e fazer uma economia saudável. Novamente, o CIC: “O trabalho é para o homem, e não o homem para o trabalho”.
Alguns economistas liberais clássicos argumentam que o livre mercado (“a economia”) é a única garantia real para famílias e comunidades fortes. Muitos socialistas contra-argumentam que só economias dirigidas podem atingir esse objetivo. A maioria de nossos melhores historiadores e poetas, por outro lado, sempre souberam que as melhores economias são conduzidas pela igreja, pela família e pela comunidade; ou seja, nutridas e dirigidas moralmente.
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É a pessoa, no contexto das estruturas perenes e naturais da igreja, da família e da comunidade, que é ela mesma verdadeiramente natural e completa. E, como membros do culto, essas pessoas completas criam economias (e, para esse propósito, governos) que são melhores para elas, dadas as circunstâncias cada vez mais complexas ao longo do tempo. A cultura antecede a economia; se o culto não for saudável, a economia, por mais que tentemos abstraí-la ou antropomorfizá-la, não será saudável por muito tempo.
Já que demos um crédito extraordinário para historiadores e poetas, vamos dar uma olhada na sabedoria histórica de Forrest McDonald e na visão poética de Robert Frost para ilustrar o ponto. Primeiro, uma definição:
Corporação, s. Um dispositivo engenhoso para obter lucro individual sem responsabilidade individual (Ambrose Bierce, The Devil’s Dictionary [O dicionário do diabo], 1911).
Bierce, escrevendo suas definições cruéis em meio ao período de maior mudança na história da raça humana (aproximadamente entre 1870-1920, os primeiros cinquenta anos de vida dos meus avós), viu em seu entorno a verdadeira Revolução Americana: Uma alteração fundamental da relação do homem com a natureza, que, entre outras coisas, criou uma prosperidade desconhecida a qualquer outra geração desde a Criação.
Boa parte do livro The Phaeton Ride: The Crisis of American Success (1974), de Forrest McDonald, é sobre os efeitos das corporações nessa prosperidade. A ficção jurídica “por meio da qual uma ‘companhia’ artificial de pessoas é revestida com o status legal de uma única pessoa natural” desencadeou o “início imediato da crise atual”. McDonald emprestou o título de seu livro da mitologia grega: Fáeton, filho de Hélio, deus do sol (Apolo para os romanos), conseguiu a promessa de seu pai que o deixasse conduzir pelo céu a carruagem que ilumina a terra por um dia.
Não estando à altura da tarefa, o menino perde o controle dos poderosos cavalos que puxam a carruagem. A ameaça de queimar a terra força Zeus a matá-lo com um raio para salvar a humanidade. Uma parte da lápide de Fáeton diz, “Ele não podia a carruagem de fogo paterna governar,/ embora fosse bastante, muito nobre para aspirar”.
A metáfora é clara: A carruagem corporativa, protegida legalmente, alimentada pelo fogo da inovação tecnológica, das emergências de guerras, dos bancos de investimentos e, eventualmente, pelo próprio governo, elevou-se aos céus da prosperidade, mas acabou se tornando uma ameaça à própria natureza que tentou conquistar. “É bastante fácil ensinar as pessoas a quererem coisas”, escreve McDonald, “mas é muito mais difícil ensiná-las a não quererem coisas”. Ademais, a “crise do sucesso” é pelo menos em parte um problema moral porque ela enfraquece o “éthos de trabalho”, que está “no coração do sistema moral americano”. Devemos acrescentar que o percurso da carruagem indomada em busca de “coisas” ameaça, ao menos indiretamente, a igreja, a família e a comunidade ao enfatizar os desejos individuais sobre as associações naturais.
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McDonald alerta-nos que devemos nos lembrar “do verão de 73” [tubulações de gás, o início de taxas de juros astronômicas e inflação, mercados de ações despencando em meio uma afluência incrível, que em breve será seguido por controles de preços e salários]. “Lembre-se bem disso e guarde com carinho na memória, pois as coisas nunca mais serão tão boas novamente”. Talvez os anos 80 e 90 tenham dado uma trégua, mas, no geral, para o americano médio, até agora ele é um profeta.
A Grande Depressão ameaçou a economia real pelo motivo oposto. Pessoas desempregadas não podem fomentar, fazer ou consertar coisas, exceto em um nível de subsistência básica. A grande questão econômica da década de 1930 era: “Quanta atividade econômica deveria ser subsidiada, regulada ou controlada pelo governo?”. A resposta foi “muita”, e que foi gravada em pedra durante a 2ª Guerra Mundial.
A maioria dos escritores americanos tomou a causa do “trabalhador” e optou por algum grau de socialismo. Robert Frost não. Ele ganhou dois prêmios Pulitzer nos anos 30, embora talvez tenha sido o escritor mais criticado da década (com Thornton Wilder, Booth Tarkington e Willa Cather logo atrás).
Em Build Soil, poema publicado em 1936 e interpretado amplamente como anti-New Deal — embora fora, de fato, escrito em 1932, muito antes de o segundo Roosevelt ser eleito –, Frost usou a forma virgiliana da Écloga para objetar contra aquilo que chama de “reunir a pocilga”. “Estamos sempre muito fora ou muito dentro”, diz ele.
Meus amigos sabem que sou interpessoal.
Mas muito antes de ser interpessoal,
bem lá no fundo, sou pessoal.
Logo antes de sermos internacionais,
somos nacionais e agimos como nacionais.
Falando por meio do fazendeiro Tityrus, Frost diz: “Eu lhe ofereço a revolução de um só homem -/A única revolução que está chegando”, um apelo por uma renovação da autoconfiança e do autogoverno, assim como, insiste ele, que em tempos difíceis não devemos correr ao mercado, apesar de termos sido ensinados a isso por “brutos rosnados e chicotadas”. Em vez disso, “trabalhe a terra”, are, armazene para mais tarde, desista dos planos de cinco anos; volte-se para as nossas raízes, evite a ação frenética que os tempos parecem exigir dizendo “cada um afaste-se do outro, e do outro se afaste cada um”.
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Seu argumento não é a favor da liberdade irrestrita: “Todos pedem por liberdade para si / O homem, amor livre; o empresário, livre comércio; / o escritor e o locutor, liberdade de expressão e de imprensa”. Mas não há amor pela humanidade, “Há apenas amor por homens e mulheres, amor / pelas crianças, amor pelos amigos, pelos homens, por Deus.”
A canção diz: roube longe e fique longe.
Não entre em muitas gangues. Junte-se a poucas, se houver.
Junte-se aos Estados Unidos e junte-se à família —
Mas não muito, a menos que seja numa faculdade.
Build Soil é um convite clássico para o meio termo aristotélico, para a temperança e o respeito próprio, intercalados com palavras de hinos cristãos e imagens agrícolas, e um aviso contra o excesso de confiança nas forças do mercado ou nas soluções governamentais para questões atemporais. Uma economia, por consequência, é o anseio e a engenhosidade de homens e mulheres reais que entendem que um bom solo deve ter seus dons enriquecidos, e não ser privado deles. A ganância e os “ismos” de todo tipo são seus verdadeiros inimigos.
Assim como a família é o “primeiro e melhor professor da fé”, cabe àqueles que Burke chamou de “pequenos pelotões” restaurar o respeito pelo trabalho, o único que pode restaurar a saúde de uma ordem econômica. É um longo caminho a percorrer, mas nenhuma “ciência” econômica ou remendos políticos podem nos fazer realmente querer fomentar, construir e consertar. Um bom começo para percorrer a longa estrada é afastar-se do percurso de Fáeton, parar de “reunir a pocilga” e ler atentamente nossos historiadores e poetas.
John Willson é colaborador sênior do The Imaginative Conservative. Ele é professor emérito de história, Hillsdale College.
The Imaginative Conservative, todos os direitos reservados. Publicado com permissão. Link original: “Do We Really Understand What an Economy Is?”.