Por Andreas Lombard – 10 de abril de 2025
De vez em quando, sou convidado para um castelo do início do século XVIII na zona rural alemã, com tetos altos em estilo barroco e um fosso ao redor. A propriedade abrigava anteriormente um castelo medieval e foi passada de geração em geração por 850 anos. Metade do castelo é ocupada por inquilinos, a outra por seus nobres proprietários católicos westfalianos.
A integrante mais velha da família, uma baronesa de noventa e oito anos com o charme de uma jovem dama, é muito piedosa. Ela reza até três terços por dia e ocasionalmente se refere — com a devida discrição — à sua íntima relação com as almas do purgatório. Uma vez por mês, familiares e amigos celebram uma missa privada e se confessam.
Quando alguém está prestes a embarcar em uma longa viagem, seu carro é abençoado na presença de moradores e funcionários. Imagine cenas dos romances de Leon Tolstói, Fiódor Dostoiévski ou Teodor Fontane. Um lar sagrado como este, derramando graças sobre todos os seus moradores, é algo raro e precioso.
A fé intensa encontrada neste castelo não poderia estar mais longe da liturgia moderna e frouxa da igreja da vila vizinha, que tende a substituir a beleza pelo kitsch. Os moradores também são politicamente conservadores, rejeitando a interferência do governo, a censura e o crescente desrespeito pela vida humana — evocando o exemplo do cardeal westfaliano Graf von Galen, o “Leão de Münster”, que corajosamente pregou contra o programa de eutanásia dos nacional-socialistas.
Muitos dos aristocratas católicos alemães de hoje continuam a se engajar no movimento pró-vida, a promover a educação religiosa ou a prestar serviços médicos por meio da Ordem de Malta, a última ordem espiritual de cavaleiros que restou.
Outra distinção significativa é que a baronesa tinha quase vinte anos quando a Segunda Guerra Mundial terminou. Ela conhece dificuldades que as gerações mais jovens não conseguem sequer imaginar. Recentemente, ela mandou consertar a velha bomba d’água mecânica da casa, por precaução.
Ela se entristece ao ver que a roda de madeira do velho moinho está apodrecendo, enquanto os preços da eletricidade continuam subindo. E considera ingênuo que as pessoas modernas tenham se acostumado tanto ao fluxo aparentemente interminável de bens essenciais, como se vivessem o tempo todo em um pronto-socorro… E se, nas palavras de E. M. Forster, “a máquina parar”?
Para a baronesa, a fé é um bem assegurado, mas o pão com manteiga não. Para a maioria das pessoas, ocorre exatamente o contrário. O mesmo ocorre com o Estado e com partes da Igreja alemã — embora as crises estejam aumentando, assim como o senso de urgência. Só as novas dívidas estatais, que somam trilhões, sobrecarregarão cada família alemã com pelo menos mais € 100 por mês pelos próximos trinta anos. A proteção contra o crescente avanço do islamismo na Europa dificilmente pode ser garantida. Grandes aglomerações públicas, alvos fáceis para o terrorismo, estão sendo canceladas por questões de segurança.
No entanto, o bispo Gerhard Feige, de Magdeburg, defendeu recentemente a imigração contínua, rejeitando a hierarquia tomista da caridade. É assim que a elite alemã reage quando o vice-presidente J.D. Vance os alerta contra o suicídio nacional por meio da imigração em massa. Em uma homilia, o bispo Feige disse que a “igualdade de todas as pessoas… tem sido questionada recentemente e de forma cada vez mais gradativa e diferenciada”.
De fato, todas as pessoas são iguais aos olhos de Deus. Mas, quando se trata de imigração, não existe tratamento “igual”. Há, necessariamente, um processo de seleção; ONGs selecionam refugiados e, às vezes, a embaixada alemã os transporta de avião. E, como esses refugiados vêm de países de maioria muçulmana, são, em sua maioria, muçulmanos.
Nossos irmãos e irmãs cristãos são frequentemente negligenciados nesse processo, pois demonstrar favor a eles é considerado “discriminatório”. Portanto, neste país, garantir a “igualdade de todas as pessoas” significa, em última análise, deixar de lado o dever para com a família, o próximo e os nossos irmãos cristãos.
Contudo, o árduo trabalho de ajudar refugiados significa mais do que apenas dizer palavras bonitas, e não pode ser feito às custas dos compatriotas. A realidade demonstra que as coisas precisam mudar.
O que o Estado e as igrejas estão fazendo é ruim, mas o que eles não estão fazendo é pior: cuidar de seu rebanho, promover a fé e a resiliência, encorajar estratégias de subsidiariedade e autossuficiência, fortalecer famílias e bairros, dar incentivos fiscais à horticultura, ao artesanato e à agricultura, tornar o país cultural e economicamente menos dependente de importações, melhorar a educação, desafiar as pessoas intelectual e espiritualmente — por meio de bons sermões e do sacramento da confissão — em vez de espalhar a indiferença.
O problema é que todas essas medidas, que fortalecem a saúde mental e espiritual, reduziriam a cota de intervenção do Estado e enfraqueceriam o sistema de bem-estar social do qual dependem os grandes serviços sociais das igrejas. A incapacidade do país de combater a inflação e os preços da energia e se preparar para contingências econômicas é mais do que irresponsável. É uma confissão de niilismo, indicando uma grave falta de patriotismo e de crença no passado e no futuro do país.
O que poderia ajudar contra o duplo niilismo do Estado e da Igreja? Por enquanto, a cura só pode vir da autoafirmação civil, que, como um movimento popular, existe apenas em casos isolados, em pequenos círculos, iniciativas e associações. É claro que esses pequenos movimentos não serão capazes de salvar um país inteiro do colapso. Levaria décadas de mudança.
Porém, de um ponto de vista cristão, a salvação não é uma questão de quantidade. E também não é uma questão de sobrevivência física, como a velha baronesa sabe. Mesmo quando o pão e a manteiga são escassos, a fé nunca falta.
Originalmente publicado em: https://firstthings.com/germanys-confession-of-nihilism/ (Tradução nossa, com permissão do First Things)