Joseph Pearce
The Imaginative Conservative
É estranho que os chamados “progressistas” atribuam uma inevitabilidade inexorável aos acontecimentos futuros. Eles desprezam aqueles que creem em Deus por sua superstição, mas demonstram uma crença na suprema e inalterável vontade da história, especialmente do todo-poderoso Futuro que está predestinado a ser superior ao presente.
É esse o motivo pelo qual eles dizem que há pessoas no “lado certo” e no “lado errado” da história. Aqueles que acreditam num futuro brilhante inaugurado pelos avanços tecnológicos provarão estar do lado certo da história; os que são céticos sobre tal futuro estão ipso facto no lado errado.
Para ser justo, esses progressistas não creem que a história tem uma vontade pessoal, apenas que a engenhosidade da ciência irá resolver todos os problemas, inaugurando uma idade de ouro, livre da pobreza, da escravidão e da religião.
Uma fé tão ingênua na ciência e em sua onipotência parece estar mais forte do que nunca, se considerarmos a fé cega depositada nos “especialistas” durante a recente pandemia. Se alguém se recusasse a se conformar aos juízos e ditames dos “especialistas”, já era tido como um perigoso dissidente e uma ameaça para a sociedade.
O problema com quem sustenta essa compreensão progressista da história é que ele desconhece a realidade. Ele acredita que as pessoas se comportam mal porque não estão suficientemente confortáveis. Quando a ciência for capaz de satisfazer todas as suas necessidades materiais, as pessoas serão felizes.
Essa é uma visão da realidade baseada em uma compreensão errônea da humanidade. As pessoas não são felizes quando querem mais, mas quando querem menos. A chave para a felicidade está na autolimitação ou no autocontrole, não na autoindulgência e na autogratificação.
Quem passa todo o tempo buscando conforto torna-se miserável, assim como torna a vida dos outros também miserável por meio das consequências do seu egoísmo. A busca pelo conforto é o caminho para a corrupção, ou para o que é justamente chamado de decadência, tanto para os indivíduos como para a sociedade. Ela leva à anarquia que trai a felicidade e a liberdade com um beijo de Judas.
A ironia é que o progressismo está baseado em uma compreensão reducionista de ciência. No sentido clássico, ciência é “conhecimento” (scientia), o que inclui o conhecimento de Deus (teologia) e o amor à sabedoria (filosofia). Já a “ciência” atual, no sentido moderno da palavra, é o que era chamado pelos clássicos simplesmente de filosofia da natureza. Era o estudo da natureza.
A fé cega nesse tipo de “ciência” – e na sua capacidade de nos livrar do mal – não é ciência de verdade, mas um reles cientificismo. É uma ideologia política baseada na adoração à tecnologia, não no amor à ciência per se. É a entronização da mera engenhosidade e o abandono da sabedoria.
Uma ironia ainda maior é que muitos dos chamados conservadores estão comprando a presunção progressista de que as coisas estão caminhando inexoravelmente para uma certa direção, a qual os progressistas pensam ser um futuro promissor e cheio de liberdades, enquanto os conservadores veem apenas como um inferno libertino que está às portas.
Esses conservadores concordam com a perspectiva progressista; eles apenas não gostam dela! Eles caem em desespero ao presumir que os progressistas estão predestinados a ser o lado vencedor da história, mesmo não crendo que eles estejam do lado certo.
Eles são como Denethor em O Senhor dos Anéis, que gasta tanto tempo fitando a pedra palantír que passa a acreditar na propaganda demoníaca que vê nela, cometendo suicídio ao pressupor que o mal é poderoso demais para ser resistido e que a vitória dele é inevitável.
No entanto, se olharmos para o passado com um guia para o futuro, fica evidente que a cultura progressista – a cultura da morte – não apenas é destrutível, mas até suicida. A utopia progressista está destinada a implodir devido aos seus próprios excessos. Quando isso começar a acontecer, mesmo os progressistas mais antigos cairão em si e seus olhos se abrirão para a realidade.
Quando toda a sociedade está se dirigindo para o abismo, satiriza Chesterton, os sábios ficam para trás. Mas quando o abismo se torna visível, todo mundo quer ficar para trás!
As consequências do cientificismo em relação ao futuro real – muito diferente do futuro imaginado pelos progressistas – podem ser percebidas pelo emprego de uma metáfora tecnológica. A sociedade humana pode ser comparada a um automóvel. Ele continua avançando com segurança e na direção certa com o uso coordenado de acelerador, volante e freios. O acelerador é o progresso tecnológico; o volante, a sabedoria; e os freios, a tradição.
Quando todos trabalham juntos, avançamos com segurança e na direção que precisamos ir. O problema do cientificismo é que ele pisa fundo no acelerador, enquanto se recusa a usar os freios e joga fora o volante.
Não é preciso ser um gênio para descobrir onde essa ideologia vai dar. Ou devemos abandonar essa maneira imprudente de dirigir ou, então, esperar um catastrófico acidente. E estejamos certos de que quem dirige desse jeito não será julgado como estando do lado certo da história.
Joseph Pearce é colaborador sênior do The Imaginative Conservative. É Diretor de Publicação de Livros no Augustine Institute, editor da St. Austin Review e editor da série das Ignatius Critical Editions.
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