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Bonum est diffusivum sui

Uma educação para o futuro

John Pinheiro
The Imaginative Conservative

As controvérsias na educação católica não começaram com a Declaração de Land O’Lakes [que deu total “autonomia” e “liberdade acadêmica” às universidades da Igreja] em 1967. Na verdade, a melhor forma de educar os fiéis tem sido discutida desde que Santo Agostinho de Hipona refutou o legado de Tertuliano argumentando que os cristãos tinham muito a aprender com as verdades encontradas através da filosofia na herança pagã greco-romana. 

Deus é a Verdade e os cristãos são obrigados a buscar a verdade onde quer que ela possa ser encontrada. O declínio rápido e generalizado das universidades e faculdades católicas, no entanto, é um fenômeno recente. Em termos da missão e do currículo delas, a maioria das instituições católicas de ensino superior reproduziu um declínio cultural geral e uma secularização radical que, hoje, se expressa por uma busca da verdade apenas de forma truncada e ilhada.

O que será de nossa civilização agora que ela é hostil à religião que ajudou a formá-la? E o que será do antigo diálogo entre fé e razão que por tanto tempo caracterizou a educação católica?

O problema de como enfrentar essa crise na cultura ocidental, e na educação católica especificamente, foi abordado por Christopher Dawson em 1961, apenas alguns anos antes da Conferência de Land O’Lakes. No seu livro A Crise da Educação Ocidental, Dawson propôs o estudo da cultura cristã como o melhor meio de preservar a unidade da civilização ocidental, promovendo uma educação em artes liberais verdadeiramente “libertadora” e prevenindo contra os efeitos corrosivos da secularização. 

Desde a década de 1960, não faltaram outras soluções propostas, especialmente porque todos, exceto os mais ideologicamente comprometidos, ainda elogiam a abordagem Land O’Lakes e a veem como algo diferente do que ela realmente tem sido: um fracasso prejudicial. A maioria dessas soluções visa não tanto reconstruir uma cultura cristã, mas apenas resgatar a vida intelectual e a busca da verdade que caracterizavam a “conversa entre a fé e a razão” nas universidades católicas desde os dias de São Tomás de Aquino (ver Francis Cardinal George,  A Godly Humanism, CUA Press, 2015, página 132).

Por sua vez, André Gushurst-Moore propõe uma solução beneditina: um retorno às ênfases pedagógicas da ordem religiosa que ajudou a evangelizar a Europa e perpetuar o melhor do saber e da cultura clássica na esteira da transformação da civilização romana no Ocidente. Não se trata da “Opção Beneditina” de Rod Dreher, que Gushurst-Moore caracteriza como um “programa de sobrevivência” polêmico e obscuro. Dreher muitas vezes refutou habilmente essa visão simplista da sua “Opção Beneditina”, mas o seu programa ainda é caracterizado por muitos como um retiro do mundo, em vez de um engajamento na cultura a partir de uma ação intencional e forte da comunidade cristã.

Gushurst-Moore acha que Dreher diagnostica corretamente o que aflige o Ocidente, mas o problema, a seu ver, é que Dreher “parece ter pouca fé na capacidade de auto-ajuste de uma cultura”. Gushurst-Moore recorre a Dawson para se opor a essa noção de um declínio cultural imparável.

Dawson rejeitou a divisão da história ocidental em antiga, medieval e moderna, observando corretamente que esta é uma maneira moderna e secular de dividir a história. O que ela faz é tomar o ponto alto da cultura ocidental, conhecido como Cristandade, e tratá-lo como uma “era mediana” sem importância, em vez do ápice da cultura clássica e cristã. Esta não é a visão cristã da história.

Dawson, por sua vez, propõe seis idades da Igreja. Em cada estágio, a Igreja se eleva a novos patamares culturais, artísticos e intelectuais antes de estagnar e declinar, mas apenas para renascer novamente. A Igreja, argumentou Dawson, é como Cristo: tem seus períodos de crescente influência e florescimento, depois seguidos por tempos de sofrimento e morte, que acabam por resultar eventualmente em uma ressurreição.

Como Dawson, Gushurst argumenta que esse modelo de morte e ressurreição, ou “decadência e renovação”, é uma característica duradoura da civilização cristã. Os católicos não são chamados a entrar em um bunker beneditino e se afastar da cultura hostil. Fazer isso, diz Gushurst-Moore, seria uma inversão do mito Whig, só que com a história sendo enxergada em um “declínio irreversível” em vez de um “progresso imparável”.

Portanto, não é que seja necessário um novo e diferente São Bento, como escreveu Alisdair MacIntyre em seu famoso Depois da Virtude, mas sim o mesmo Bento, cuja Regra trouxe ordem à Europa ocidental ao instaurar um “realismo cristão” que produziu dezenas de instituições beneditinas e cistercienses de ensino.

O que podemos aprender com a mais antiga das tradições educacionais cristãs? Esse é o assunto principal do livro de Gushurst-Moore. Seus temas soarão familiares para aqueles que conhecem bem o assunto — a importância da virtude e da formação moral; o verdadeiro lazer e a “inutilidade” do ensino superior; os transcendentais da verdade, beleza e bondade; e a necessidade de qualquer educação católica autêntica ser “contracultural”

Uma educação católica e beneditina para o futuro”, escreve ele, “deve ser aquela que inclua a formação nas virtudes, bem como nas artes e ciências, para que as pessoas possam continuar a encontrar uma liberdade que não destrua a natureza humana e o potencial humano.”

Este é um remédio muito diferente da modernização e “evolução” proposta pela Declaração Land O’Lakes, que também encorajou uma diminuição na proporção de professores católicos nas universidades católicas, a fim de tornar essas instituições mais “autênticas” e relevantes. Mesmo com um currículo católico ideal, mesmo que os professores fossem simpáticos à tradição intelectual católica, uma universidade sem professores católicos não seria uma universidade católica.

Uma coisa que teria ajudado imensamente este livro é se o autor tivesse incluído mais exemplos de escolas que realmente operam de acordo com essa visão beneditina. Gushurst-Moore nos diz concisamente o que é a educação beneditina e como ela é “experimental” e visa à conversão e “aprendizagem ao longo da vida”

Mas onde estão os exemplos? Existem alguns, mas não muitos, e aqueles que temos são excessivamente genéricos. No entanto, talvez isso apenas aponte para o problema, a saber, com uma herança intelectual, artística e moral tão rica, por que, entre as muitas instituições de ensino católico (incluindo, é claro, as beneditinas), há tão poucas dedicadas a um educação libertadora e humana baseada na verdade, na humildade e no amor?


John C. Pinheiro é professor de História e diretor fundador da cadeira de Estudos Católicos no Aquinas College em Grand Rapids, Michigan. Ele é o autor do premiado Missionaries of Republicanism: A Religious History of the Mexican-American War (Oxford, 2014). Seu livro mais recente é The American Experiment in Ordered Liberty (Acton Institute, 2019).

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