Redes Sociais:      

Bonum est diffusivum sui

Fazer as coisas certas e da maneira certa

Dentro da visão clássica da administração, a empresa pode ser vista como um sistema que conjuga recursos por meio de processos visando alcançar determinados objetivos. Esta visão sistêmica implica necessariamente em organização, atributo com o qual se confunde a própria condição de empresa.

A visão sistêmica da empresa pressupõe que não é possível empreender sem organizar, sem planejar, sem estabelecer prioridades. Segundo Stoner e Freeman (1995. p. 465), “é papel da gerência operacional atender às prioridades competitivas dos clientes e melhorar a produtividade da organização.”

Há pouco tempo, este papel era visto como algo exclusivo da função diretiva e gerencial. Este conceito, no entanto, vem alargando-se e já se percebe que a eficiência de uma organização em produzir resultados não pode se restringir ao esclarecimento e ao empenho de alguns poucos, mas deve estender-se a todos os envolvidos na atividade produtiva.

Dentro desta perspectiva de ampla responsabilidade, é útil considerarmos como se organiza a produção e como se comportam as pessoas de acordo com a sua função. Se a atividade produtiva se caracteriza pela transformação de recursos em produtos visando atender distintas demandas, cabe estudar a natureza desses interesses e quão eficiente é a forma como eles são atendidos.

Comecemos pelos interesses. O cliente externo espera receber o produto ou serviço pelo qual pagou; o profissional espera ser recompensado pelo serviço que prestou; o empresário espera obter o retorno pelo capital que empregou; o governo espera arrecadar o tributo que a empresa gerou. Estes são os interesses declarados dos diversos agentes envolvidos na produção.

Com a evolução dos mercados e o maior esclarecimento dos clientes, há hoje outros interesses que, mesmo que não sejam declarados, estão implícitos nas expectativas de quem os demanda. A satisfação deixou de se limitar exclusivamente ao produto para considerar também a forma e o benefício intangível do processo produtivo.

Passaram a fazer parte da apreciação os aspectos de sustentabilidade ambiental, responsabilidade social, comportamento ético e moral, e de forma mais direta, a possibilidade de desenvolvimento técnico e pessoal dos profissionais. A chamada qualidade de vida passou a integrar a dinâmica econômica da organização.

O profissional passou a perceber que salário é apenas um dos itens de sua remuneração, que além de suas necessidades básicas há outras também essenciais que precisam ser atendidas, como segurança, bem-estar ambiental, perspectivas de crescimento, desenvolvimento intelectual e cultural entre outras. Percebeu o profissional que, como pessoa, é sujeito de direitos e de obrigações que vão além do estritamente contratado.

Também o empresário passou a perceber que não lhe bastava o rendimento do capital como recompensa do seu esforço empreendedor. Além do lucro, passou a buscar também o reconhecimento pelo seu dinamismo empreendedor, exigindo comprometimento daqueles que o seguem. A recompensa pelo seu trabalho passou a ter um componente de compromisso social que exige reciprocidade, engajamento e participação.

Esta maior sensibilidade e transcendência por parte tanto do empresário como do empregado está em perfeita consonância com a evolução do esforço criativo e inovador demandado pelo mercado, pois a abertura a um bem mais elevado permite o surgimento de lideranças empreendedoras que beneficiam tanto o processo como a pessoa. De certa forma podemos dizer que tanto o empresário como o empregado buscam uma parceria solidária da qual se beneficia toda a sociedade.

Se os interesses envolvidos na atividade produtiva se sofisticaram, deve também a eficiência do processo corresponder para que o resultado esperado seja alcançado. Esta eficiência exige uma atualização constante da gestão para que o resultado não seja comprometido pelo passar do tempo e pelo surgimento das inovações. 

Todo processo sofre uma ação física da natureza denominada entropia, que segundo a ciência termodinâmica significa que todos os sistemas e processos tendem naturalmente à desorganização, ao envelhecimento e, finalmente, à morte. (MARANHÃO M. e MACIEIRA M. 2006. p. 101)

Esta lei física se aplica implacavelmente aos processos produtivos sendo agravada pela falta de conhecimento e integração dos processos técnicos e humanos. Talvez aqui esteja o maior desafio enfrentado hoje pela empresa na atualização de seus sistemas.

Todo cuidado deve ser tomado para que a energia investida na renovação dos processos resulte em trabalho útil e não no agravamento do desgaste que se pretende combater. Segundo os professores Maranhão e Macieira,

A velocidade da desorganização dos processos (perda de eficiência e eficácia) acontece proporcionalmente à influência de dois fatores: 1) A organização trata apenas dos efeitos gerados pelos problemas, esquecendo-se de investigar e eliminar as suas causas. 2) Há muitos pequenos problemas presentes, e por serem pequenos acabam sendo tolerados. Ocorre que esses problemas são cumulativos e podem escapar ao controle. (MARANHÃO M. e MACIEIRA M. 2006. p. 102)

Cabe a distinção dos conceitos de eficiência e eficácia. A Norma NBR ISO 9000:2000 (4) define eficácia como extensão na qual as atividades planejadas são realizadas e os resultados planejados, alcançados. Eficiência é a relação entre o resultado alcançado e os recursos usados. A eficácia está relacionada aos resultados do processo, sem qualquer vinculação com a forma de executá-lo. A eficiência retrata uma relação entre os meios utilizados e o fim, os resultados, fornecendo uma medida da relação custo/benefício para a realização dos processos. Segundo Peter Drucker,

Não precisamos de ferramentas melhores ou em maior número, precisamos de conceitos simples – algumas regras práticas – que possam ajudar a organizar o trabalho. Para Drucker o trabalho gerencial consiste em dirigir os recursos e os esforços da empresa no sentido de oportunidades para resultados economicamente significativos. Isso soa trivial – e é. Entretanto, o grosso do tempo, do trabalho, da atenção e do dinheiro vai primeiro para os “problemas” e não para as oportunidades e, em segundo lugar, para áreas nas quais até mesmo um desempenho extraordinariamente bem-sucedido terá impacto mínimo sobre os resultados. (DRUCKER P. 1998)

O maior problema gerencial para Drucker está fundamentalmente na confusão entre eficácia e eficiência, que fica entre fazer as coisas certas e fazer as coisas da maneira certa.

Leia também: A felicidade do ser está na realização da sua última potência

Certamente não há nada tão inútil quanto fazer com grande eficiência aquilo que nem deveria ser feito. Contudo, todas as nossas ferramentas – em especial nossos conceitos e dados contábeis – focalizam a eficiência. O que necessitamos é de uma forma para identificar as áreas de eficácia (de resultados significativos possíveis) e um método para concentração nas mesmas. (DRUCKER P. 1998)

Em seu livro “Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”, Stephen Covey cita a fábula de Esopo sobre a galinha dos ovos de ouro para explicar a diferença entre eficiência e eficácia. Para Covey os hábitos são eficazes quando estão em harmonia com as leis naturais, com os princípios que devem nortear a conduta humana:

Acredito que nesta fábula se manifesta uma lei natural, um princípio – a definição básica de eficácia. A maioria das pessoas enxerga a eficácia a partir do paradigma dos ovos de ouro: quanto mais alguém produz, quanto mais faz, mais eficaz ele é. Entretanto, conforme se pode ver na história, a eficácia resulta de duas coisas: o produto (ovos de ouro) e a capacidade de produzir (galinha). Se você focar só os ovos, negligenciado a galinha, em pouco tempo perderá a sua fonte dos ovos de ouro. Por outro lado, se cuidar apenas da galinha, sem dar importância aos ovos de ouro, logo não terá mais meios para alimentar a galinha, ou a si próprio. A eficácia consiste no equilíbrio entre a produção e a capacidade de produção. (COVEY S. 2001)

Leia também: O trabalho visto sob a ótica da mudança

É desafiador o compromisso de todos os profissionais em buscar a eficácia de forma eficiente, ou seja, “de fazer a coisa certa da maneira certa”, como diz Drucker, e assim realizar um trabalho consciente que gere uma atuação solidária fundamentada no respeito à pessoa que possa gerar não só a eficiência dos processos, mas também uma efetiva geração de impactos necessários para a sociedade.

REFERÊNCIAS

  1. STONER J. A. F e FREEMAN R. E. Administração. Rio de Janeiro: Prentice Hall, 1995. p. 465.
  2. MARANHÃO M. e MACIEIRA M. O processo nosso de cada dia. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006. p. 101.
  3. DRUCKER P. A profissão de administrador. São Paulo: Pioneira. 1998
  4. COVEY S. Os 7 hábitos das pessoal altamente eficazes. São Paulo: Best Seller. 2001.
Paulo Lucas

Economista, especialista em Estratégia Econômica de Empresas pela FAE e em Desenvolvimento Pessoal pela Univesidad de La Sabana.

1 comments

  1. Alessandra Luccas

    Muito bom!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *